Ministério da Cultura e Petrobras apresentam
Amazi (Resultado Panorama Mar)
Lais Castro (Rio de Janeiro, Brasil), Myriam Birara (Ruanda), Dorothée Munyaneza (França)
Amazi, uma palavra que significa água em várias línguas Bantu em toda a África, carrega em si uma raiz compartilhada que se torna um lembrete sutil de interconexão: um rio linguístico que atravessa o continente, transportando histórias de dispersão e continuidade.
Abrangendo a África Oriental, Central e Meridional, bem como o kinyarwanda, a língua de Ruanda — país de origem de duas das artistas — Amazi torna-se o terreno para um encontro poético entre três artistas negras: Dorothée Munyaneza, Laís Castro e Myriam Birara. Juntas, elas tecem uma performance em que corpo, imagem e som se entrelaçam, intercalados com imagens da água, para refletir sobre sua presença em nossas relações.
O projeto reflete sobre o Oceano Atlântico como um lugar vital na memória afro-diaspórica. A água aqui é tanto literal quanto simbólica: espaço de ruptura, morte e desconexão, mas também de mito, migração e transformação. Evoca uma rota de deslocamentos forçados por meio da escravidão, do colonialismo e do imperialismo, ao mesmo tempo em que preserva um espaço para resistência e reinvenção. A criação se relaciona com a água como um arquivo vivo, guardiã de histórias, afetos e ancestralidades.
Por meio de camadas visuais e corporais, a performance-instalação convida o público a um espaço imersivo onde imagens do mar e a presença do corpo se fundem, evocando e cuidando de memórias e traumas não apenas vividos, mas também herdados. Aqui, a água é ao mesmo tempo suspensão e passagem: um elemento que outrora separou, mas que também une africanos e afrodescendentes na diáspora, abrindo fissuras para novas leituras da memória coletiva e para a invenção de outras formas de existência.
O Panorama Mar é um projeto agregado ao CoLABoratório com foco na colaboração entre artistas mulheres e da diáspora africana residentes no Brasil, França e África. A iniciativa é um evento oficial da Temporada França-Brasil 2025.
SOBRE O ARTISTA
Natural de Ruanda, Dorothée mudou-se para a Inglaterra com sua família no verão de 1994, aos 12 anos. Estudou música na Jonas Foundation (Londres) e ciências sociais em Canterbury, antes de se estabelecer na França. Com música, canto, dança, texto, Dorothée Munyaneza parte da realidade para captar a memória e o corpo, para carregar as vozes daqueles que são silenciados, para fazer ouvir os silêncios e revelar as cicatrizes da história. Artista associada do Théâtre la Ville – Paris de 2018 a 2021, Dorothée é hoje associada ao Théâtre National de Chaillot e à Maison de la Danse e à Bienal de Dança de Lyon, e em residência na Fundação Camargo de 2022 a 2024. Em 2024 recebeu os Prémios Europeus de Dança Salavisa na Fundação Gulbenkian em Lisboa.
Laís Castro é artista da performance, pesquisadora, professora e curadora independente. Doutoranda em Artes da Cena e mestre em Dança pela UFRJ. Diretora de criação da Peneira (https://peneira.org ). Sua pesquisa acadêmica e artística se relaciona com os cruzamentos do audiovisual e a subjetividade periférica. Dirigiu os trabalhos “Trilha Marginal”, “Fade Out do Olhar”, “Sucessivos Presentes” e “Verde”, peça de dança multilinguagem que trata de subjetividades periféricas em diálogo com referências referências afroindígenas e afrofuturistas. Laís também é idealizadora da Jam Citrus e anfitriã do espaço de arte Citrus Ateliê, em Campo Grande, onde propõe encontros ligados à estética periférica na arte contemporânea.
Myriam U. Birara (n. 1992) é uma cineasta e pintora autodidata ruandesa cujo trabalho explora as relações humanas, as emoções e a beleza da vida cotidiana. Embora seja formada em finanças, ela optou por se dedicar à arte em tempo integral, dirigindo seu primeiro curta-metragem em 2011. Seu aclamado curta Imuhira (2021) estreou no Festival Internacional de Cinema de Locarno e ganhou vários prêmios em todo o mundo. Em 2023, seu longa de estreia, A Noiva, estreou no Berlinale Forum e ganhou reconhecimento internacional, incluindo prêmios nos Festivais de Cinema de Las Palmas e Khouribga. Como pintora, a arte visual de Myriam complementa a sua produção cinematográfica, refletindo o seu fascínio pelos momentos mundanos e profundos da vida, apresentados em exposições locais e internacionais.
FICHA TÉCNICA
Criação: Dorothée Munyaneza, Laís Castro e Myriam Birara
Vídeo: Laís Castro e Myriam Birara
Texto: Myriam Birara
Montagem de vídeo: CLEA
Trilha Sonora: Ben Lamar Gay e Maurício Maia