Estar juntos. Lembrar juntos. Fazer juntos.

Chegar aos 21 anos, na vida como num festival, é encarar a maturidade. O aprendizado que pavimenta o caminho é grande, mas muito maior é o horizonte de tudo que ainda há para fazer. Reinventar modelos, repensar formas de agir no mundo e encontrar as ligações que ainda fazem necessário um encontro como é o Festival Panorama desde 1992. Este ano, num cenário social e urbanístico de extrema mudança no Rio de Janeiro, queremos pensar em dois eixos que nos parecem urgentes sobre a arte – e a vida – no Rio. Um é o sentido da palavra comunidade. O outro é discutir como a nossa memória pode ativar o presente. Para além dessas costuras, o Festival aumenta seu campo de ação, incorporando a música e o audiovisual como partes crescentes da sua paisagem.

Estar juntos, entender o comum como feito da multiplicidade. Nesse campo, poucas áreas artísticas têm estado tão preocupadas com a questão do coletivo e das decisões em conjunto como a dança e as artes do corpo. Este ano, nos mais de 12 palcos ocupados pelo Festival de 2 a 18 de novembro em vários bairros, a questão ressurge em muitos ângulos. Desde a microcomunidade de 100 cariocas de profissões diferentes em Atlas, até a resistência de ponta-cabeça dos 50 cariocas que se espalharão pelo Parque Lage para Plantação/Árvores, ou os 40 homens que ocuparão o Campo de Santana em Melt down. As rodas populares como motor da sociedade aparecem em Cribles, enquanto a potência do coletivo é o ponto de partida de De repente fica tudo preto de gente. São muitas outras as comunidades que se entrelaçam na programação. Os 50 criadores latino-americanos da exposição STILL_MÓVIL, ou os que sussurram entre as árvores do Parque Lage em World of interiors, além de diversas outras.

Um segundo percurso no Panorama 2012 atravessa o tempo e a memória para falar do que é possível documentar. A emocionante instalação WE SEE FIREWORKS nos cerca das memórias de outras cenas e infinitas possibilidades. Histoire(s) faz uma arqueologia dramatúrgica para reviver o balé ícone de Roland Petit sobre o qual não há documento senão a memória dos que a viram ao vivo. Trajal Harrell mistura as ideias de autenticidade e mundo pop numa série de estudos que faz uma hipotética ponte entre a cena Vogue do Harlem e as dança pós-moderna da Nova York dos anos 60 – 70. Dos subúrbios cariocas, a memória afetiva e familiar dos portugueses e seus ranchos folclóricos enche o palco do Panorama em A viagem. A música de um antigo balé, pensada para outros movimentos hoje, se ilumina de perguntas na potente coreografia de A ballet story.

Os portugueses, numa ponte atlântica iniciada em 2000 entre o Panorama e o então festival luso Danças na Cidade (hoje Alkantara), são este ano o grande destaque, dentro da programação oficial do Ano Portugal no Brasil. Noutra ponte sobre o mar, esta conectando o Panorama e a cena experimental britânica desde 2002, uma seleção de artistas radicados no Reino Unido chega ao Rio em parceria com o projeto Transform. Pela terceira vez o Panorama ocupa a fronteira entre as artes do corpo e as visuais e se espalha pela belíssima Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Desta vez, em quatro estreias coproduzidas pelo Festival com apoio da Funarte e da Funarj – Secretaria Estadual de Cultura do Rio de Janeiro.

Num ano de clara expansão de suas fronteiras, o Festival se firma como o maior festival de artes contemporâneas da cidade e recebe dentro de sua programação seu primo barulhento e inovador, o HAPPENINGS, com curadoria do carioca Batman Zavareze. Instalações sonoras, performances musicais e muita surpresa ocupam o Centro de Artes Hélio Oiticica.

O Panorama chega a 2012 como um festival internacional conhecido no mundo todo, mas que tem no Rio de Janeiro seu cenário e sua inspiração. Uma enorme e indisciplinar viagem que dura 17 dias para o público e 12 meses de pontes e costuras entre artistas, gestores públicos, patrocinadores e uma imensa equipe e rede de parceiros que são nossa diária e imediata comunidade.

Estamos juntos. Fazemos juntos.

Nayse Lopez, Eduardo Bonito & Catarina Saraiva
Diretores